Exigência de candidatos à adoção de crianças trava processo
Vanessa Fajardo
Do Diário do Grande ABC - 10/05/2009
Por meio do Cadastro Nacional da Adoção criado há um ano pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) com a promessa de agilizar o processo, 23 adoções foram consolidadas e há 35 casos em andamento em todo o País. Mais do que um aliado, o cadastro veio para desmistificar um estigma: o maior vilão da adoção não é a burocracia.
Dados do CNJ mostram que em todo o Brasil há 14.843 pretendentes cadastrados esperando por filhos adotivos, só em São Paulo estão 5.558. A maioria quer meninas brancas, sem defeitos físicos ou psicológicos, com no máximo três anos de idade.
Na contramão da fila estão 2.360 crianças e adolescentes aptos, judicialmente, a receberem novos lares. Em São Paulo são 1.048, segundo o CNJ. Grande parte está fora do perfil exigido pelos candidatos à adoção e mesmo com o poder familiar destituído, ou seja, sem chances legais de voltar ao convívio com a família biológica, passam a infância inteira dentro dos abrigos.
Na região, levantamento feito pelo Diário junto às prefeituras (com exceção de Mauá que não retornou ao pedido de informações) apontou que há pelo menos 590 crianças e adolescentes abrigados, mas a maioria não está disponível à adoção. No Lar Escola Pequeno Leão, em São Bernardo, onde atualmente há 58 crianças e adolescentes, o tempo médio de acolhimento é de cinco anos.
"Não temos crianças nas prateleiras, as que temos são frutos do abandono da nossa sociedade com perfil que não é o desejado pelas famílias. É preciso compreender que na adoção o que se busca é uma família para uma criança e não uma criança para suprir a necessidade de uma família", diz Andréa Pachá, presidente do comitê gestor do Cadastro Nacional de Adoção.
Uma das formas de mudar esta lógica é trabalhar na conscientização da adoção tardia. Caso da delegada de polícia de São Bernardo, Kátia Regina Cristófaro Martins, 47, que adotou Eduardo, o Dudu, 8, depois de vê-lo num abrigo de São Bernardo, local em que viveu desde os oito meses. "Bati o olho e foi paixão à primeira vista, não conseguimos desviar o olhar. Disse: é ele."
Kátia já tinha dois filhos biológicos, César, 14, e Caio, 10, quando decidiu engravidar novamente. Fez um tratamento de fertilidade, mas não funcionou, e resolveu partir para a adoção. Descartou a hipótese de adotar um bebê por causa da rotina de trabalho.
A adoção foi homologada no dia 2 de julho do ano passado, cinco meses após o processo ser iniciado. Para comemorar a família voltou ao abrigo para um churrasco. "O Dudu foi o maior presente que ganhei e ouvi-lo me chamar de mãe foi emocionante, assim como com os outros filhos."
Para comprovar que Kátia e o marido, o escrivão de polícia, Victor Wangler Martins, 29, aprovaram a experiência, ela adianta que pretende adotar outra criança. "Não engorda, não há dor, o bico do peito não fica rachado, e o amor é o mesmo", brinca.
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