quarta-feira, 29 de julho de 2009

O Lado B da Adoção

Olá Amigos!!!

Meu objetivo aqui no blog não é tecer criticas, para isso já existem um monte de comunidades no Orkut, onde pessoas ficam tão exaltadas defendendo seus pontos de vista que chegam a agredir outras com palavras. O meu propósito é apenas informar tudo (ou quase tudo) que vem sendo noticiado em relação a adoção, ou seja, o blog é para reunir essas notícias e matérias num lugar só.

Por isso me abstenho de dar opiniões, não que não as tenha, mas acho que não vem ao caso, prefiro colocar as informações aqui e que cada um que as leia tire suas próprias conclusões e façam suas próprias filtragens, ok?

abandono

As dificuldades de relacionamento e os problemas que ninguém comenta – mas frequentemente aparecem depois da adoção. As histórias de sucesso e fracasso, o que os especialistas aconselham e o que pode mudar com a lei aprovada pelo Senado

Kátia Mello e Liuca Yonaha. Colaboraram Martha Mendonça, Nádia Mariano e Rodrigo Turrer

Luiz, de 12 anos, chegou a uma das Varas da Infância de São Paulo apenas com uma mochila nas costas. Nenhum brinquedo, nenhum livro, nenhum CD. Além de trazer poucos pertences, o menino parecia triste. Bem triste. Estava ali para ser devolvido. Depois de cinco anos em uma família, a mãe que o adotou não o quis mais. “Foi devolvido como se fosse um saco de batatas”, disse a psicóloga da Vara da Infância, Mônica Barros Rezende, que acompanhou o caso. A alegação da mãe adotiva foi que ele não obedecia mais. “Não aguento mais. Ele desobedece, falta na escola”, teria dito ela. A intervenção do Conselho Tutelar não adiantou. O Judiciário propôs uma terapia familiar, mas a mãe não compareceu. O que fazer? Luiz voltou ao abrigo para viver a experiência de abandono. O segundo. Na família em que nasceu, o pai o espancava com um pau e foi preso por tráfico de drogas. A mãe, que também apanhava do marido, não lhe dava comida nem banho. Luiz foi parar em uma instituição aos 2 anos, depois de ser encontrado pela polícia sozinho, aos prantos, com fome e sujo. Como ele tinha uma avó, o Conselho Tutelar deu-lhe a tarefa de criá-lo, mas ela não conseguiu. Ao voltar ao abrigo, Luiz estava com hematomas e um braço quebrado. Ficou ali até ser adotado, aos 7 anos. O Judiciário avisou que o menino tinha problemas de anemia, raquitismo e arritmia do coração, e a mãe adotiva o levou ao médico inúmeras vezes. Tudo parecia bem. Mas, quando ele entrou na adolescência, a mãe adotiva teve dois netos e, segundo os técnicos que acompanharam o caso, ela passou a cuidar mais deles que de Luiz. “O meu primo nasceu, e minha mãe só cuida deles”, teria dito o menino.

Luiz, como os demais personagens desta reportagem, recebeu um nome fictício, mas sua história é dolorosamente real. Há muitos casos de adoção que terminam dessa forma, naquilo que os especialistas chamam de segundo abandono. Não deveria acontecer, mas acontece. Existe uma brecha na lei quando a situação é irreversível ou acontece antes de a adoção ser formalizada. Traumática, assustadora, a devolução é o caso extremo de um fenômeno pouco discutido: o lado B da adoção – os problemas inesperados, os conflitos. Por ser um tema muito delicado, fala-se pouco sobre os problemas que enfrentam as famílias adotivas. As angústias e dificuldades existem, são palpáveis e se forem amplamente discutidas podem evitar situações desastrosas para a família que adota e, principalmente, para a criança, que já sofreu um primeiro abandono, o da família biológica. “Aquele discurso de que adoção é um ato de amor é, no mínimo, ultrapassado. A adoção demanda um estudo da situação, um preparo muito especial para aquilo que as pessoas estão se dispondo a realizar”, afirma o juiz Reinaldo Cintra Torres de Carvalho, da Vara da Infância da Lapa, em São Paulo. A maior parte das adoções tem um final feliz, mas, para que o sonho não se torne um pesadelo, quem adota precisa conhecer melhor esse universo. “O sentimento pela criança adotada pode ser o mesmo de um filho biológico, mas a situação não é a mesma”, diz a psicanalista paulista Maria Luiza Assis Ghirardi, que estuda o assunto há 15 anos e publicou no ano passado, na Universidade de São Paulo, a tese Devolução de crianças e adolescentes adotivos sob a ótica psicanalítica: reedição de histórias de abandono. “O fato de uma criança ser adotiva traz especificidades. O fato de alguém não poder gerar um filho também tem suas especificidades que precisam ser aceitas.”

Na quarta-feira passada, com a aprovação da nova Lei Nacional de Adoção, o país deu mais um passo para olhar de frente os problemas da adoção e das crianças abandonadas. A principal mudança imposta pelo texto foi o estabelecimento de prazo máximo de dois anos para a permanência da criança em abrigo sem a destituição do chamado poder familiar – procedimento necessário para que o menor fique disponível à adoção. Com a nova lei, ficará mais rápido o processo de destituição de tutela familiar, e o nome da criança poderá ir para o Cadastro Nacional de Adoção. Há no Brasil cerca de 22 mil casais à procura de um filho adotivo e cerca de 3 mil crianças disponíveis. Porém, os menores cadastrados representam uma parcela mínima dos meninos e meninas que estão nos abrigos do país. A estimativa é que sejam de 80 mil a 100 mil crianças nessas instituições. Elas estão no limbo: nem são adotadas nem voltam para seus lares de origem. A prioridade é que sempre voltem para casa, mas nem sempre isso é possível. E a Justiça é morosa nos processos. Agora deverá andar mais rápido.

Outras mudanças no mundo da adoção estão acontecendo pela via da Justiça. No mês passado, o promotor de Uberlândia, Epaminondas Costa, resolveu entrar com uma ação inédita contra um casal de funcionários públicos que resolveu adotar Ligia, uma menina de 8 anos. A menina foi devolvida sem nenhuma justificativa, depois de oito meses no estágio de convivência e às vésperas de o casal obter a guarda definitiva. A decisão é inédita porque justamente aconteceu antes de ser concretizada a adoção. A juíza da Vara da Infância e Juventude, Édila Moreira Manosso, determinou que o casal deve pagar uma pensão alimentícia de 15% dos rendimentos líquidos até que Ligia complete 24 anos. “Eu me convenci da veracidade e da necessidade dessa criança de ter um atendimento especial. Se isso será bom ou não, só o tempo vai dizer”, afirmou a juíza. O promotor disse que a ação foi efetivada porque a menina sofreu traumas fortíssimos, como a perda de sua identidade: “O casal trocou o primeiro nome dela e isso mudou o relacionamento social dela com as pessoas. Agora ela está confusa e não sabe quem é”. De acordo com os técnicos do Judiciário, a criança estava muito bem adaptada ao novo lar. “Ela foi enganada, ludibriada. Até hoje quer saber o porquê de ter sido devolvida”, diz o promotor. O Ministério Público pediu ainda a reparação por danos morais no valor de cem salários mínimos (R$ 46.500). O casal recorreu da decisão e o processo deverá levar meses. No abrigo, Ligia agora espera para receber tratamento psicológico adequado.

Antes de simplesmente condenar como imoral o gesto dos pais adotivos que devolvem suas crianças ao orfanato, é importante entender melhor o universo da adoção e suas inúmeras dificuldades. “Os pais têm de entender que não são eles que têm o direito de ter um filho, é a criança que tem o direito de ter pais, uma família.” A frase é de Michelina Della Porta, coordenadora da Associação Amigos das Crianças no Estado de São Paulo, uma entidade que apoia a adoção de crianças brasileiras na Itália e tem um significado que vai além da retórica: os pais não podem esperar que a criança adotada atenda a suas expectativas familiares, mas sim que eles, pais, consigam atender às necessidades da criança, que precisa desesperadamente de uma família.

Essa é uma visão recente, que incorpora os direitos das crianças e não as percebe mais como simples objetos do desejo adulto. Faz parte da evolução que a idéia de adoção sofreu desde que surgiu pela primeira vez, na Antiguidade. Hindus, persas, egípcios e hebreus praticavam a adoção como parte do culto à família, que impunha a necessidade de um filho. É coisa antiga, portanto. Um texto histórico da procuradora gaúcha Maria Regina Fay de Azambuja lembra que Moisés, antes de apresentar as Tábuas da Lei, foi adotado pela família do faraó egípcio. O Código de Hamurabi, escrito na Babilônia, tinha oito artigos devotados à adoção. Um deles previa que o filho adotivo que dissesse aos pais adotivos que eles não eram seus pais teria a língua cortada. Em Roma, a adoção era conhecida como recurso político: César adotou seu sobrinho Otávio como filho, para que ele se tornasse seu herdeiro e imperador. Foi a Revolução Francesa, porém, que finalmente consagrou a adoção como ato jurídico, capaz de estabelecer o parentesco entre duas pessoas. De lá para cá, muita coisa mudou. A partir da Segunda Guerra Mundial, que produziu milhões de órfãos em vários continentes, nota a procuradora Maria Regina, a adoção internacional passou a ser uma prática regular, que afeta profundamente as crianças brasileiras. Na Itália, quase 80% das crianças adotadas vêm da América Latina. Na França, 16% das crianças adotadas são brasileiras. Apesar dos avanços, os problemas persistem. Eles são de natureza pública, como aqueles que a lei aprovada no Senado na semana passada tenta resolver, mas são também, em larga medida, problemas de natureza privada – que só vão despontar quando a criança ingressar no convívio de sua nova família. Há entre pais e filhos adotivos problemas práticos de relacionamento dos quais pouco se fala e que não são suficientemente discutidos. Eles podem determinar o sucesso ou o fracasso de uma adoção, por mais generosos que sejam os sentimentos envolvidos. A psicanalista Maria Luiza, que assessorou a Associação dos Magistrados Brasileiros na campanha Mude um destino, que incentivava adoções, identificou em sua tese uma série de fatores de risco com o objetivo de “melhorar a relação entre pais e filhos e evitar a devolução” de crianças e adolescentes aos abrigos.

O primeiro problema refere-se às dificuldades de convivência. É preciso que os pais se conscientizem de que os conflitos virão. Se a adoção for tardia, ou seja, se a criança tiver mais de 2 anos, eles podem ser ainda mais acirrados. Se com os filhos biológicos isso já acontece, não será diferente com os adotivos. Problemas de convivência podem acontecer em vários momentos, seja numa adaptação inicial, com os membros da família, seja quando a criança se torna adolescente. “O momento de adaptação dessas famílias, os primeiros 18 meses, são fundamentais para prevenir os conflitos de qualquer ordem”, diz Claudia Cabral, psicóloga e diretora da ONG Terra dos Homens, grupo de apoio às famílias adotivas. “Nesse período tem de ser feito um acompanhamento, seja do Estado, seja de grupos de apoio. Quando um casal quer adotar, o desejo é abstrato. Quando a adoção se concretiza, tudo muda. Não necessariamente para pior, mas muda.”

A economista fluminense Maria da Glória Vasconcelos Tavares de Lacerda, de 46 anos, afirma que enfrentou desafios quando optou por adotar uma criança. Ao se separar do marido, há quatro anos, sentiu a necessidade de dar um irmão a seu filho Lucas, hoje com 14 anos. Ela frequentava a ONG Quintal de Ana e ficou sabendo sobre o caso de Samuel, então com 7 anos, nascido em Minas Gerais. Em apenas um fim de semana, ela resolveu adotar o menino. “Eu me precipitei na adoção”, diz. Mas não demorou muito para a alegria dar espaço à angústia. “No começo, foi muito difícil, houve cenas horrorosas. Ele chegou a avançar em mim, com socos e chutes. Ele cuspiu na minha cara”, disse. O garoto não aceitava ordens e se negava a ouvir conselhos. No entanto, ela não desistiu da idéia de criá-lo. “Na ONG, eles me diziam para ter calma e que essa fase iria passar”, afirma. Depois de dois meses de convivência, Glória colocou Samuel para ter sessões terapêuticas e até hoje ele frequenta a mesma analista. “Depois de uns dez meses, ele disse que me amava. Foi um dia muito emocionante.” Hoje, Samuel, aos 10 anos, controla sua agressividade, tem um bom relacionamento com o irmão, mas as dificuldades não cessaram. Ele tem problemas com o aprendizado, e Glória está lá, ao lado dele, ajudando-o na escola. “Às vezes perco o dia com Samuel nas tarefas escolares”, diz ela.

O segundo problema gerador de conflitos é a origem da criança. Na fase inicial, os pais adotivos precisam entender que o passado da criança está ligado a seu futuro e que em nenhum momento esse passado deve ser negado. O nome próprio é a primeira questão. Muitas famílias simplesmente trocam o nome das crianças por outro que acham mais bonito. Sai Claudionor e entra Leonardo. “O nome está diretamente relacionado com a identidade que carregamos. É melhor que se acrescente um nome ao que a criança já carrega”, afirma a psicanalista Maria Luiza. Os juízes de Vara de Infância também aconselham que desde o início seja contada a verdade sobre a origem da criança. “Não se apaga o passado de alguém”, diz o juiz Reinaldo. Muitas vezes a família não conta porque teme que a criança cresça, descubra os pais biológicos e não queira mais quem a acolheu. A nova Lei de Adoção, aliás, formaliza esse direito. O juiz diz que frequentemente os pais adotivos têm medo que a criança queira voltar para a família biológica, em especial, na adolescência. É uma fase natural que ocorre com todos os adolescentes, sejam biológicos ou não. No adotado, essa busca da identidade vai ser: ‘Por que minha mãe me abandonou’?, ‘Por que fui adotado?’. “Basta estar ciente de que isso vai acontecer para driblar a situação”, afirma o juiz. Outro problema recorrente é que, diante de um conflito, os pais fiquem lembrando de forma pejorativa a origem do filho adotivo: “Esse sangue ruim só pode ter vindo da sua família”, dizem alguns. Se o conflito chegou a esse ponto, é hora de pedir ajuda.

A dificuldade em colocar limites em um filho adotivo – outro problema comum nas famílias que adotam – pode, em muitos casos, estar ligada ao que a psicanalista Maria Luiza chama de adoção por altruísmo. São pessoas que se consideram bondosas, estão bem economicamente e acreditam que vão “salvar” o adotado de uma situação desfavorável. Elas enfocam apenas as necessidades das crianças e muitas vezes superprotegem. Como os pais não dizem “não”, a tendência é que os conflitos sejam empurrados para o futuro. Em geral explodem na adolescência. Segundo a psicanalista, o altruísmo é um sentimento ambivalente, porque oculta baixa autoestima de quem adota.

Outra questão é a expectativa exagerada em relação aos filhos adotivos. Isso costuma acontecer principalmente quando o casal não pode gerar os próprios filhos. É uma possível consequência da infertilidade. Ao mesmo tempo que a criança oferece a oportunidade de completar a família, ela será a eterna lembrança de que o casal não pôde ter filhos. Por isso, os técnicos do Judiciário e psicólogos recomendam a esses casais que haja uma espécie de luto pela criança que não foi concebida antes de procurarem pela adoção. A psicóloga Mônica conta a experiência de uma mulher que não podia ter filhos e sofreu uma profunda depressão ao receber um bebê adotivo. A interpretação é que ela não fizera o “luto” necessário e não estava pronta para adotar. A criança voltou ao abrigo, com o apoio do juiz.

Por todas essas razões, os especialistas acreditam que o estágio de convivência é essencial para a adoção chegar a bom termo. É o chamado “namoro” entre a criança e os pais. Os candidatos a pai visitam a criança no abrigo com a frequência possível e durante o tempo que a Justiça achar necessário. É um período de troca, quando se formam os laços afetivos e se obtêm informações de parte a parte. Quanto mais informados são os pais sobre a adoção, maiores as chances de ela dar certo – e isso ocorre no estágio de convivência. O Judiciário tem obrigação legal de informar sobre a situação física e psicológica da criança, e os pais, por sua vez, têm o dever de revelar suas expectativas em relação à criança. É um período delicado em que psicólogos e assistentes sociais devem ser capazes de detectar as dificuldades para a futura família.

Muitas vezes, com a pressa de adotar, os problemas não são colocados e o convívio não se realiza pelo tempo necessário. “A prática nos mostra que ainda há defasagem entre o preparo dos adotantes e o que o Judiciário poderia fazer”, afirma Luiz Schettini, psicólogo pernambucano e autor de mais de dez livros sobre adoção, entre eles Compreendendo os pais adotivos e Compreendendo o filho adotivo (editora Vozes). O preparo da criança também é necessário. Antes de ela ser enviada à família, precisa se acostumar à ideia de que terá um novo lar, muito diferente do abrigo. Na nova casa, por exemplo, ela deverá seguir novas regras. Mas essa preparação adequada nem sempre ocorre, pela precariedade das instituições. “A estrutura dos abrigos dificulta preparar as crianças para sua nova vida”, afirma Schettini.

Nem sempre seguir as regras evita desastres. As irmãs Maria, de 7 anos, e Julia, de 6 anos, são lindas, dóceis e muito risonhas. Juntas parecem uma só. Certa vez, se encantaram por uma moça que sempre as visitava e passaram a chamá-la de mãe. A mulher, solteira, de classe média, frequentava o Centro Organizado de Tratamento Intensivo à Criança, que recebe crianças portadoras de necessidades especiais. Depois de alguns meses, resolveu pedir a guarda provisória de Maria e Julia. As irmãs foram morar com ela, mas voltaram ao abrigo em um ano e nove meses, devolvidas. Todos ali são unânimes em dizer que as duas são de fácil convivência. Maria tem um problema na perna que faz com que ela precise de um andador, mas parece ser uma criança feliz. Tanto ela quanto a irmã se recusam a falar sobre a devolução, mesmo na ludoterapia, usada como técnica para aliviar os traumas do abandono. O único comentário foi que a mãe não tinha tempo para cuidar delas e quem fazia isso era a avó. “Elas chegaram aqui assustadas. Não entendiam como antes dormiam no quarto com a mãe e agora estavam voltando para o mesmo abrigo”, diz a psicóloga Kátia Cilene Martins Ribeiro. Outro caso de devolução desse mesmo abrigo foi o de Cássia, uma menina autista de 6 anos. Cássia passou quatro anos com um casal de idosos. O pai adotivo está com 73 anos e a mãe com 70. Ao descobrir no ano passado que tinha câncer, a mãe adotiva afirmou que não tinha mais como cuidar da menina. Por ser autista, Cássia não se manifesta sobre seu segundo abandono.

A adoção é sempre uma incógnita. Não se sabe com certeza como vai terminar – e o que ela reserva para os pais e a criança. Nos anos 70, quando a adoção era mais difícil, Maria de Lourdes e o marido, o geógrafo Carlos Eduardo Osório Ferreira, adotaram Pedro, que chegou com apenas 4 dias de vida. Eles haviam tentado engravidar por anos, sem sucesso. “Ele era lindo e parecia perfeitamente saudável”, disse Lourdinha, como é conhecida. Com apenas 1 mês, a família descobriu que Pedro nasceu prematuro e a consequência disso era uma grave dificuldade respiratória. Um dia, ele quase morreu sufocado no berço. Lourdinha teve de fazer respiração boca a boca. “Aquele foi meu parto”, disse ela. Depois de muitas noites maldormidas e total dedicação, Pedro foi se recuperando. Quando ele tinha 3 anos, o casal resolveu adotar uma menina, Mariana, que veio com 10 dias. Assim como Pedro, Mariana bebê parecia muito saudável. Aos 3 meses, porém, foi detectado que tinha paralisia cerebral. “Não vou negar que ficamos atônitos. Mas partimos para a luta. Ela logo iniciou um tratamento. Hoje, Mariana tem todos os movimentos”, diz a mãe.

Apesar dos problemas, Lourdinha diz que jamais se arrependeu e jura que nunca pensou em devolvê-los. “Existe alguma mãe de verdade que faça isso? Eu sou e fui a mãe deles desde o primeiro dia”, afirma. Seu marido, Carlos Eduardo, recusa o rótulo de “generoso” ou “especial”. “Tudo que fizemos foi natural de quem ama.” Lourdinha não nega o esforço e a extrema dificuldade por que passaram na criação dos filhos. “Houve momentos em que eu pensei que não ia aguentar, exatamente como toda mãe. Mas eram meus filhos e a minha responsabilidade era aquela. Nós quatro falamos muito sobre isso tudo ser nossa missão. Esse encontro, as dificuldades, a superação. Acredito que tudo isso tenha um nome: família.” Pedro, hoje geólogo, de 33 anos, e Mariana, publicitária, de 30, são adultos bem formados, independentes e felizes. Pedro disse que tinha apenas uma declaração: “Eles são os melhores pais que qualquer pessoa pode ter”. Mariana afirmou: “Eu nunca me senti menos amada por ser adotada ou por ter uma deficiência física. Tudo o que sou devo a eles”.

As estatísticas do abandono

Quanto mais tempo a criança fica no abrigo sem as condições legais para a adoção, mais se distancia do perfil procurado pelos adotantes

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Perfil desejado x realidade

As exigências dos pais em busca de uma criança “ideal” adiam o sonho e o direito da criança real à espera de uma família nas instituições de acolhimento

 

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As principais mudanças na lei

A nova Lei Nacional de Adoção foi criada para agilizar os processos e reduzir o número de crianças nos abrigos

 

  COMO ERA COMO FICOU
Prazo para a criança com família ficar em abrigos

Sem prazo

Fixa limite de dois anos para a permanência em abrigos sem a destituição do poder familiar

Relatórios sobre as crianças nos abrigos

Sem prazos máximos para os relatórios periódicos sobre cada menor

Determina a elaboração de relatório semestral à Justiça sobre cada criança abrigada


Família ampla

Não havia o conceito na lei

A permanência da criança na família ampla (tios, avós e outros parentes) deve ser priorizada na adoção


Irmãos

Apesar de não estar na lei, os juízes já costumavam tentar manter irmãos na mesma família

Irmãos devem ser adotados pela mesma família, a não ser que se constate abuso ou outro risco para as crianças


Consulta à criança

Apesar de não estar expresso na lei, os juízes costumavam ouvir as crianças no processo de adoção

Se a criança tiver mais de 12 anos, deverá ser consultada sobre seu processo de adoção

Idade para adotar

Os pais adotivos deveriam ter no mínimo 21 anos

A idade mínima do adotante caiu para 18 anos


Adoção internacional

Não havia cadastro unificado dos adotantes estrangeiros

Será criado um cadastro de adotantes estrangeiros, ao qual se recorrerá após esgotadas as possibilidades no Brasil

 

Para um convívio melhor

Psicólogos apontam as principais razões da devolução e como evitar que os problemas usuais cheguem a esse ponto

 

 

PROBLEMAS

O QUE FAZER





Convivência

Após anos da adoção, os pais dizem que não é possível mais ficar com a criança por dificuldades de convivência. É muito comum isso acontecer quando os filhos chegam à adolescência e começam a testar os pais

Entender que a adoção é um ato irrevogável. Os conflitos acontecem com pais biológicos ou adotantes, principalmente na puberdade. A criança adotada pode estar testando os pais se eles realmente a amam. É preciso falar com as crianças sobre suas dificuldades. E, se necessário, procurar a ajuda de um técnico judiciário ou um psicólogo

Altruísmo

O adotante tem um sentimento de bondade ao realizar a adoção. Pensa que pode “salvar” a criança de um meio em que ela se encontra, com uma boa educação, enfocando apenas as necessidades dela. O altruísmo pode esconder uma baixa autoestima de quem adota, e isso poderá influir no relacionamento com a criança

Entender que nenhuma criança a ser adotada será “salva”. Ela será uma integrante da família. Se os pais se sentem altruístas, terão dificuldade em colocar limites e a criança nunca vai corresponder a suas expectativas





Infertilidade

Casais que não podem gerar seus próprios filhos podem ter expectativas exageradas em relação às crianças adotadas. Dependendo de como a infertilidade é elaborada, ela terá um efeito sobre a criança. Ao mesmo tempo que a criança adotada vai oferecer a possibilidade de uma nova família, ela também será a lembrança de que eles não puderam ter filhos

Elaborar o luto da impossibilidade de ter filhos biológicos. Compreender que as idealizações tendem ao fracasso, uma vez que a criança nunca vai alcançar os exatos ideais colocados pelos pais. Seja ela biológica ou não




Origem

Alguns casais tentam apagar o passado da criança. Existem aqueles que querem mudar o nome da criança e esconder que ela sofreu abandono. Ou ainda aqueles que apontam os problemas como consequência de sua origem biológica, ao chamá-la por exemplo de “sangue ruim”

Contar sempre a verdade. O passado da criança pertence a ela. A sugestão para o nome é que os pais considerem o nome de origem e acrescentem o de sua preferência. E nunca culpar o comportamento da criança por aquilo que ela viveu anteriormente




Fantasia de devolução

A fantasia de devolução costuma surgir com o aumento dos conflitos vividos na relação com a criança. Permeia a relação adotiva como uma possibilidade. Mas é preciso reforçar que a devolução só é considerada no estágio de convivência, ou seja, antes da adoção. Ou quando traz danos irreversíveis à criança

Quando a fantasia de devolução se intensifica, é sinal de que a relação pais-filho apresenta dificuldades que necessitam ser compreendidas e trabalhadas, com a ajuda de psicólogos e assistentes sociais

Fonte: http://revistaepoca.globo.com

bjinho

3 comentários:

disse...

Fico pensando com meus botões: E os pais que tem decepção ou não conseguem se comunicar com seus filhos biológicos??? Devolvem pra quem???
Bjsssssss

Fernanda Benitez disse...

Amiga,

Você chegou no X da questão.

beijinhosss

AP disse...

Penso da mesma forma que a Lê, e emito minha opinião sobre a Revista, já na Capa expõe um tom pejorativo e ao invés de trabalhar melhor a quebra de tabus sobre Adoção, só vem aumentar o preconceito de quem não está envolvido com o tema, e muito menos se importa de verdade com o envolvidos nessa caminhada. Enfim...rs, eu chutei o balde no meu Blog e entrei na campanha para pedir retratação, afinal somos mais de 22 mil pretendentes à Adoção, soma aí todas as crianças abrigadas que precisam ser respeitas, por pior que tenha sido sua origem, mais todas as pessoas que foram adotadas e são um verdadeiro sucesso na vida ( minha avó paterna é um exemplo disso)enfim...revoltei mesmo:/ Desculpa amiga...me empolguei no comentário...como eu disse lá no meu espaço (rs), nem me empolguei em comprar a Revista e ler o resto do conteúdo, ao ver a capa já não me senti bem para o resto, depois lendo o trecho e comentários na própria pág. da Época, tive certeza que não perdi muita coisa, não.
Mas é isso, amiga...rsrsrs..chega de gritar por aqui rsrsrs
Boa semana...bjins

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