quarta-feira, 8 de abril de 2009

Quando o amor vence o tabu

Por Liliane Oraggio Cocchiaro e Carla Leirner


Saber que é adotado pode provocar sentimentos muito distintos: revolta diante da rejeição dos pais biológicos, gratidão e amor pelos pais adotivos. Aqui, filhos da adoção contam como superaram os conflitos familiares e como nem mesmo as maiores dores os impediram de construir trajetórias cheias de conquistas.
Ao longo da vida, é inevitável adotar naturalmente muitas coisas: uma profissão, um estilo de vida, um amigo, um bicho de estimação, valores éticos e morais. Não deveria ser diferente quando o assunto é adotar uma criança, mas escolher alguém para ser filho do coração --não da barriga-- é ainda um tema marcado pela dúvida e pelo medo. Nos últimos dez anos foram fundados cem grupos de apoio à adoção em todo o Brasil, para desfazer esse bicho-de-sete-cabeças que envolve um processo jurídico de, no mínimo, seis meses e muita emoção. ''O que move esse trabalho é a esperança de erradicar o abandono'', afirma o paulista Paulo Sérgio Santos, secretário da Associação Nacio-nal de Grupos de Apoio à Adoção.

Além desse movimento social, são inúmeras as histórias de adoções bem-sucedidas que se propagam boca a boca. Esses relatos ajudam a diminuir o preconceito e clareiam o caminho de quem decide ter um filho dessa forma. O próprio Paulo é um deles. Foi adotado, ainda bebê, por um casal que já tinha quatro filhos biológicos. ''Desde cedo eles me ensinaram a lidar com o preconceito e demonstraram total aceitação em relação a mim. Isso fez com que eu crescesse com equilíbrio e muito afeto. Lembro que, quando alguém perguntava: 'Esse é o menino que você pegou para criar?', minha mãe respondia: 'Não peguei ninguém para criar, ele é meu filho. Eu adotei.'. Quando tinha 18 anos, a família cresceu e ganhei outros três irmãos adotivos'', lembra Paulo. Hoje, ele se orgulha de ter dez filhos, sete deles por adoção. ''Ninguém precisa seguir meu exemplo, mas vale a pena enfrentar o desafio. O importante é não agir por impulso: a adoção tem de ser planejada e motivada pelo desejo de ter filhos e criá-los com amor. Com essa base todos os problemas que surgirem podem ser superados'', diz ele, que é engenheiro e trabalha em uma metalúrgica no ABC Paulista para sustentar sua numerosa família.

Há conflitos específicos vividos por quem foi adotado. O primeiro é que a criança foi rejeitada pela mãe biológica. Outro ponto delicado é a maneira como se comunica ao filho que a história dele inclui a adoção. Isso pode acontecer de um jeito natural, desde os primeiros anos de vida, ou ser guardado como um segredo, que pode vir à tona sem qualquer cuidado e provocar um choque. ''Aí o problema não é a adoção, mas o filho perceber que foi enganado pelos próprios pais, o que gera muita revolta. Nesse caso, para recuperar a confiança mútua, os pais adotivos devem falar da emoção que sentiram ao receberem a criança nos braços'', diz Renata Pauliv de Souza, psicóloga paranaense. Ela é filha adotiva e realiza um trabalho voluntário, junto com seus pais, na ONG Recriar, de Curitiba, para a preparação de pessoas que optaram pela adoção.

A motivação que leva à adoção também é fundamental para que a relação entre pais e filhos seja saudável. ''Não se deve decidir adotar, e sim decidir ter um filho. Quando o motivo para trazer a criança é tapar um buraco afetivo, como a infertilidade ou o medo da solidão, há grandes chances de que a adoção seja conflituosa. Por isso, antes de adotar, o melhor é fazer o luto das frustrações, para que esse novo integrante da família chegue em terreno positivo'', completa a psicóloga.

O cineasta Kiko Goifman, de 36 anos, detectou uma contradição interessante em seu documentário ''33'', lançado em 2003, em que narra sua busca pela mãe biológica na cidade de Belo Horizonte. ''Nesse trabalho, percebi o quanto a adoção é comum e, ao mesmo tempo, o quanto causa estranhamento. A maioria das pessoas conhece alguém que tem pais adotivos. Porém, quando conto que sou adotado, em geral demonstram pena e até um certo constrangimento, como se ouvissem uma confissão. Acho que o assunto deve ser discutido abertamente, nas famílias e na sociedade. Com o filme, cumpri meu objetivo de diminuir o estranhamento em torno do assunto'', diz o cineasta.

Aqui, quatro filhos adotivos falam sobre seus conflitos e contam como a adoção foi uma experiência integradora, em que o amor venceu os tabus



Marcos Costa, 38 anos, maquiador
''Tenho muita sorte. Por ter nascido e por ter sido adotado por uma família maravilhosa''

''Meus pais adotivos tinham três filhos adultos e viviam em Goiânia. Como todos estavam demorando a casar e os netos não vinham, optaram pela adoção. Uma amiga da família soube que uma jovem estava doando o filho por não ter condições de criá-lo. Na hora, minha mãe foi me buscar na casa dessa amiga. Cheguei em casa com dois dias de vida, embrulhado em uma toalha de rosto. Cresci sem sentir diferença de tratamento em relação aos meus irmãos. Ao contrário, fui o único a estudar em escola particular e a ter as melhores roupas, pois, quando me adotaram, meus pais estavam numa boa situação financeira. Jamais fui tratado como ilegítimo. Levava bronca, ficava de castigo como os outros.

Tinha uns sete anos quando soube da adoção, de um jeito inesperado. Fiz alguma reinação na casa da vizinha e ela gritou: 'Sai daqui, menino adotado'. Isso me machucou. Foi a primeira vez que senti o preconceito na pele. Minha mãe, que estava esperando o momento certo para me falar da adoção, resolveu me contar toda a história. Junto com a revelação, nasceu o medo de que ela me abandonasse ou me devolvesse para a mãe biológica. Sempre que esse pavor surgia, minha mãe me dava colo, abraços e me acalmava com palavras de conforto. Com o tempo, esse sentimento ruim deu lugar à segurança. Sentia que tinha meu espaço na casa e dentro do coração da família. Além disso, tinha o carinho da minha irmã mais velha, que tinha 26 anos quando cheguei e foi como uma segunda mãe para mim.

Tudo que tenho devo a eles. Só me dei bem na vida. Passei um tempo estudando na França, sou um profissional de sucesso, tenho amigos queridos, minha vida amorosa é tranqüila. Falo da adoção com muita naturalidade e nunca tive problemas com isso.

Não sinto vontade de conhecer meus pais biológicos. Em-bora, às vezes, me pergunte onde estaria se não tivesse sido adotado, se sou parecido com minha mãe, se tenho irmãos, mas é só. Não me apego a essas questões. Recebi carinho, respeito e educação, e isso não deixou espaço para conflitos.

Ainda não é o momento, mas quero adotar um filho. É uma decisão difícil e tem de ser tomada com carinho. O importante é que um casal, duas pessoas do mesmo sexo, ou alguém sozinho se comprometa com a nova vida que tem nas mãos, como aconteceu lá em casa.

Senti demais a perda dos meus pais. Meu pai faleceu em 2000, velhinho, aos 86 anos. Éramos muito ligados. Mesmo morando em São Paulo, nos falávamos todos os dias. Quando ia para Goiânia gostava de cuidar dele, aparava sua bara e cabelo. A morte da minha mãe foi ainda mais difícil. Ela teve um derrame e morreu de repente, aos 79 anos. Aconteceu entre o Natal e o Ano-Novo de 2001 e fiquei com ela o tempo todo. O fato de a família ser superunida ajudou muito a superar a dor. A tristeza se transformou em lembranças boas. Agora, a vejo em sonhos maravilhosos, cheios de luz e alegria.''



Cléia Maria Pires Nogueira, 41 anos, empresária
''Meus pais adotivos foram morar no interior e nunca mais vi minha mãe biológica''


''Vivi com minha mãe até os quatro anos. Ela veio de Minas Gerais para São Paulo com apenas 16 anos e arrumou emprego de doméstica. Durante o período em que trabalhava em uma casa de classe média, engravidou e eu nasci. Logo decidiu arrumar outro trabalho e a família que a empregava quis ficar comigo, pois achava que ela não teria condições de me criar. A casa era estruturada, minha nova mãe passava dos 50 anos e o caçula dos sete filhos já tinha 14 anos. Minha mãe deixou o emprego, mas até os 6 anos vinha me visitar toda semana. Tenho lembranças muito vagas desse tempo.

Um dia, de repente e sem me explicarem nada, meus pais adotivos decidiram mudar para o interior de São Paulo e não deixaram o novo endereço para minha mãe biológica. Ninguém mais falou do assunto e nunca mais a vi. Dois anos depois de mudar de cidade, voltamos para São Paulo e fomos morar em outra casa. Sem referências, minha mãe não tinha mais como me encontrar.

Desde muito cedo soube que era adotada. Quando aprendi a escrever, assinava Cléia Maria Pires (Nogueira Emprestado). Era uma referência à família que me acolheu. Aos 8 anos, fui adotada oficialmente, e tirei a palavra 'Emprestado' do sobrenome.

Mesmo sabendo da minha origem, essa questão nunca foi fácil para mim. Qualquer criança adotada, mesmo tratada com amor, carrega uma carga de rejeição, e isso é ainda mais forte quando entra numa família como a minha, onde o afeto era raro, inclusive entre eles. A única pessoa mais amorosa era meu pai. Na infância, ele me levava para passear. Tenho boas recordações dele e sofri muito quando morreu, há 15 anos. Mas mesmo ele era bastante retraído, as palavras e os momentos de carinho não aconteciam todo dia.

Reconheço que tive tudo do bom e do melhor em termos de educação, saúde e alimentação. Mas cresci sem beijo, colo e abraço. Isso acabou interferindo na minha vida amorosa. Fiz muitas escolhas erradas, porque sempre procurava nos namorados o pai que não tive, o carinho do qual fui privada. Bastava me fazer um cafuné que eu já ficava perdidamente apaixonada. Amadureci em relação a isso. Tenho namorado e ainda não penso em casar ou ter filhos.

Também pesou muito o preconceito que sofri dentro da família. Era tratada como a filha da empregada. Como meus irmãos já eram grandes quando fui adotada, eu tinha sobrinhos da mesma idade, com os quais eu não podia brincar porque minhas cunhadas não permitiam. Com as minhas irmãs era diferente, nos dávamos bem. Mas faziam questão de realçar nossas diferenças físicas com brincadeiras que eu considerava agressivas. Diziam que eu tinha bumbum e nariz de negro, zombavam do meu busto e do meu quadril grandes. Fiquei complexada, principalmente na adolescência. Ficava angustiada por ser adotada e por ser morena, diferente da família.

Hoje isso é mais ameno, mas me sinto constrangida em algumas situações, por não saber do meu passado. Um dos momentos mais embaraçosos é quando vou ao médico e não sei responder se tenho tendência a alguma doença hereditária ou casos de câncer e diabetes na família. Às vezes me pergunto: 'O que teria acontecido comigo se eu não tivesse sido adotada? Teria sobrevivido?'. Mas também me questiono se trocaria o conforto material por colo de mãe e pai. Essas são mais perguntas que continuam sem resposta.

Apesar de tudo que passei e de minha história ser marcada pela falta de amor, tenho certeza de que sou privilegiada, porque fui bem-criada, alimentada e educada. Comecei a trabalhar aos 16 anos como vendedora em uma loja, não fiz faculdade, mas montei uma pequena empresa de informática e vivo bem.''



Sandra Terezinha Pinto, cabeleireira, 54 anos
''Toda a família sabia que eu era ilegítima, menos eu''

''Quando tinha 24 anos, durante uma briga que tive com minha mãe, ela gritou que eu era adotiva. Foi como levar um soco no estômago. Mas ela logo desmentiu e disse que era brincadeira, como se isso não fosse importante. Perguntei para meus irmãos e eles também negaram que eu fosse adotada. A partir daquele dia, comecei a perceber a diferença da cor de pele e cabelo, já que sou mais clara e tenho traços diferentes do resto da família. Mas resolvi me desligar do assunto e acreditar neles.

Só aos 37 anos, quando estava grávida da minha terceira filha, soube mesmo que tinha sido adotada. Um dia, minha mãe disse que tinha uma história para me contar e me falou sobre a adoção. Fiquei muito chocada, foi como se o chão tivesse se aberto sob meus pés. Na hora, apenas perguntei: 'Por que você não me contou antes?'. 'Medo', foi a resposta dela. Temia que eu ficasse com raiva ou a rejeitasse. Achei esse pavor, que durou tanto tempo, totalmente sem sentido. Tenho o maior carinho e respeito por ela, que me deu amor, me ensinou coisas boas, como a honestidade, a sinceridade e um jeito respeitoso de tratar os outros. Nessa mesma conversa, sugeri esquecer o assunto.

Mesmo assim, depois de dar à luz chorei muito no hospital. Enquanto amamentava meu bebê, me perguntava: 'Por que minha mãe biológica me rejeitou? Por que não tive a chance de mamar em seu colo?'.

Fazia o maior esforço para deixar isso de lado. Queria só cuidar da minha filha recém-nascida, mas minha mãe insistiu em contar toda a verdade. Ela morava no interior de Minas Gerais, onde era dona de uma pensão. Tinha se hospedado lá uma jovem grávida de seis meses, conhecida como Marilda*, com o namorado. No meio da noite, a moça passou mal, pois havia tomado uma injeção para abortar. Ela tinha 19 anos e fez isso porque o filho era fruto de uma traição. Por pura compaixão, minha mãe adotiva, que se chama Dora*, se propôs a ficar com a criança, mesmo tendo 32 anos e cinco filhos. Depois de muita insistência, Marilda aceitou. Quando eu estava com 14 dias, ela me entregou embrulhada numa fralda e desapareceu.

Alguns meses após a revelação, resolvi ir atrás da minha mãe biológica. Consegui o telefone de Marilda, que era uma pessoa importante no interior de Goiás. Eu estava empolgada com a possibilidade de conhecer minha mãe de sangue, de recuperar um pouco do passado. A primeira ligação foi um pesadelo. Apresentei-me como sua filha e ela me perguntou: 'O que você quer depois de tantos anos ?'. Sem nenhum carinho, disse que me ligava outra hora e desligou. Senti raiva e uma decepção imensa. Se soubesse que ela ia ser tão fria, nunca a teria procurado.

Dias depois, ela ligou mais receptiva e justificou sua reação por causa da surpresa. Daí em diante, me ligava todo dia e passamos a conversar amigavelmente. Um mês depois do primeiro contato, ela veio para São Paulo me conhecer. Outra decepção. Pensei que fosse ganhar um abraço, mas ela me estendeu a mão. Mesmo com toda essa falta de jeito, ficou cinco dias na minha casa. Esperava que ela me amasse como amo minhas filhas. Isso não aconteceu, ela nunca me pediu desculpas, mas me tratava cordialmente.

Nos vimos várias vezes. Eram encontros agradáveis. Teve até uma festa em Goiás para que eu conhecesse toda a família. Mas, no último encontro, tivemos uma briga horrorosa, porque Marilda ficou com ciúme de eu ter pego uma carona com o marido dela e me acusou de estar interessada nele. Essa desconfiança era fora de propósito. Fiquei ofendida e me senti traída. Ela pediu que eu sumisse. Ao que respondi: 'Você me mandou embora uma vez, e está fazendo isso de novo'.

Fiquei oito anos sem vê-la. Fui reencontrá-la numa cama de hospital, quando ela teve um derrame, do qual ainda não se recuperou. Não senti nada, só mágoa. Me arrependo de ter ido procurá-la e de tê-la conhecido. Ela não acrescentou nada de bom na minha vida, só trouxe dor, angústia e rejeição. Essa história mexeu muito comigo e tem momentos em que sinto um enorme vazio. Acredito que os bebês sentem desde quando estão na barriga da mãe se são bem-vindos ou não. Acho que sempre vou carregar a dor da rejeição.

Mas nada disso impediu que eu tivesse uma vida estruturada, uma profissão, três filhas que eu adoro e o amor de toda minha família. Nos damos muito bem e sou o xodó dos meus irmãos. Muita gente me pergunta se perdoei minha mãe adotiva por me contar a verdade. Perdoar o quê? Se foi ela quem me ensinou a andar, a falar, a ser o que eu sou. Sempre vou admirá-la.''



Alessandra Rosa Carrijo, 29 anos, enfermeira
''Se eu não tivesse sido adotada, não teria as oportunidades que tive''

''Não sei quase nada do que aconteceu comigo antes dos dois anos de idade. Só sei que nasci em Florianópolis, em 1975. Até ser adotada, fiquei com uma senhora humilde chamada Dulce*, que morava em São Paulo. Mas ninguém sabe dizer como fui parar na casa dela.

Meus pais adotivos eram vizinhos de Dulce. Sempre que minha mãe passava em frente à casa dela, me via no quintal, brincava comigo e, de vez em quando, passávamos horas juntas. Esses períodos foram se tornando cada vez maiores e o afeto cresceu entre nós.

Meus pais estavam casados há pouco tempo e não tinham tentado ter filhos ainda. Tanto que minha irmã só nasceu nove anos depois. Minha mãe conta que, desde a primeira vez que me viu, sentiu muita afinidade e o desejo de ficar comigo.

as Dulce não queria abrir mão da minha guarda. Depois de alguns meses, meus pais conseguiram convencê-la de que podiam ficar comigo. Tinham melhores condições financeiras, eram jovens e gostavam muito de mim. Ela cedeu, o processo judicial da adoção foi concluído com sucesso. Quando eu tinha 4 anos, meus pais saíram de São Paulo para morar em Mato Grosso.

Nunca ninguém anunciou que eu era adotada. Desde pequena, me lembro da minha mãe falando para eu rezar para 'o papai e a mamãe que estavam no céu'. Foi a maneira que ela encontrou para dizer que eu tinha uma outra família. O fato de meus pais adotivos contarem a verdade desde o comecinho foi muito importante. Imagino que seria um susto enorme saber da adoção quando fosse mais velha. Outra coisa que ajudou muito a viver essa situação com naturalidade foi o fato de sermos parecidos fisicamente. Ninguém diz que não sou filha legítima. Sou muito parecida com minha irmã e com meus avós.

Todos esses pontos a favor e todo acolhimento que recebi não evitaram incômodos, principalmente na adolescência. Tinha no pensamento uma pergunta fixa: por pior que pudesse ser a situação financeira de minha mãe, como ela teve coragem de me deixar? Me sentia muito rejeitada, tinha vergonha de falar que era adotada e, apesar de nunca ter sofrido preconceito, cresci mantendo esse assunto em segredo.

Aos 17 anos, saí do Mato Grosso para fazer faculdade de enfermagem no Paraná. No meu curso, trabalhei em locais muitos pobres e encontrei mulheres que tiveram meia dúzia de filhos e não tinham a menor condição de criá-los. Isso me fez entender, e perdoar, minha mãe biológica. Compreendi que ela não quis ficar comigo porque queria que eu tivesse uma vida melhor e a chance de ter um destino diferente do dela. Aos poucos, as mágoas do passado se dissiparam. Hoje, vejo a adoção como um ato de amor e não de rejeição, e falo do assunto abertamente. Em 2000, voltei para São Paulo para fazer pós-graduação. Estou muito tranqüila, sou independente, tenho namorado. No futuro, penso em casar, ter filhos e em adotar.

Tenho sentido vontade de recuperar cada pedaço do meu passado. O que aconteceu comigo até os 2 anos? Como vim parar em São Paulo? Será que minha mãe biológica está viva? Ainda não dei o primeiro passo em busca dessas respostas porque quero amadurecer essa idéia antes de começar. Essa procura não significa que não ame meus pais. Ao contrário, devo tudo a eles e tenho certeza de que estarão junto comigo nessa procura. Acho que todo filho adotivo tem necessidade, e direito, de saber mais sobre suas origens e sua história. Isso dá mais segurança para seguir em frente.''

Fonte: http://revistamarieclaire.globo.com

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